Marrancos reviveu a história com recriação da espadelada do linho


Em Marrancos a tradição ainda é o que era! A freguesia voltou, no passado sábado (5 de setembro), a dar novo brilho à sua história com a recriação da prática ancestral da espadelada do linho, garantindo que os saberes da cultura popular são transmitidos às gerações mais jovens. A iniciativa, que decorreu em frente ao Museu do Linho, serviu também para comemorar o segundo aniversário do único museu nacional dedicado integralmente ao ciclo do linho, desde a sementeira até aos belos bordados que chegam às nossas casas.
Homens e mulheres trajados à boa moda minhota. Instrumentos e artefactos utilizados pelos antepassados. Cânticos tradicionais do ciclo do linho entoados com mestria. Estavam reunidos todos os condimentos para uma autêntica viagem no tempo. S. Pedro também resolveu ajudar à festa e brindou os participantes com um dia de céu limpo e sol radioso. Foi uma tarde carregada de simbolismo e com muita animação à mistura, organizada pela Associação Cultural e Recriativa de Marrancos, inserida na programação turístico-cultural Na Rota das Colheitas, do Município de Vila Verde.

Uma tarde em cheio
O evento arrancou com a recriação da espadelada do linho à boa moda antiga, com cerca de três dezenas de mulheres a darem nova vida a esta tradição ancestral, a que se seguiu a entoação de vários cânticos tradicionais. Depois, foi altura de o Rancho Folclórico de Marrancos garantir a animação. Para o final do período vespertino estava preparada uma farta merenda para retemperar forças após a árdua jornada de trabalho, sob temperaturas bastante elevadas. Pelo meio, houve ainda tempo para algumas visitas guiadas ao museu com o grande anfitrião da festa e mecenas do Museu do Linho, Abílio Ferreira.
A espadelada do linho contou com a presença da vereadora da Cultura do Município de Vila Verde, Júlia Fernandes, que enalteceu o trabalho desenvolvido pelos atores locais. “É a reprodução de uma prática ancestral com a preciosa colaboração da associação de Marrancos, e em especial do Sr. Abílio, que é a grande alma desta atividade e do próprio museu”, afirmou, sublinhando ainda a relevância cultural do evento. “Temos aqui o retrato de uma prática que remonta ao tempo dos nossos avós. Uma atividade com caracter lúdico pedagógico organizada com o intuito de não deixarmos as nossas tradições cair no esquecimento, mantendo-as bem vivas nas nossas memórias”, frisou a vereadora da Cultura.
Saberes transmitidos de geração em geração
Júlia Fernandes prosseguiu lembrando que a iniciativa cumpre um duplo propósito. “Para as pessoas com mais idade, é o reviver de uma prática que fez parte da sua vida. Para os mais novos é uma oportunidade contactar de perto com o modo de vida dos avós”, referiu, acrescentando que a espadelada do linho tem crescido de forma gradual todos os anos, registando uma evolução muito positiva, tal como a afluência ao museu. A vereadora da Cultura concluiu reforçando a importância social das iniciativas inseridas Na Rota das Colheitas. “Ainda há pouco conversava com uma senhora de 90 anos, que tinha ensinado a todas as outras os cânticos tradicionais associados ao ciclo do linho. Esta passagem de testemunho entre gerações é fundamental, é a garantia de que a tradição vai perdurar, porque é de facto um tesouro que não se pode perder”, rematou.
Cultura para potenciar crescimento económico
Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de Vila Verde, António Vilela, começou por saudar todos os presentes e, de forma particular, todos os atores locais que contribuíram ativamente para dar corpo à espadelada do linho, “uma atividade que já não se vê no quotidiano das sociedades atuais, mas que em Marrancos continua a realizar-se”. O edil continuou sublinhando a importância desta e de todas as outras iniciativas que se inserem NA Rota das Colheitas, uma programação turístico-cultural que se estende de agosto a novembro e que contribui em larga escala para a promoção e projeção do concelho de Vila Verde. “Durante todo este tempo Vila Verde é falado pela positiva e as nossas freguesias conseguem desenvolver atividades ligadas ao mundo rural e às colheitas. Temos que ter orgulho no nosso passado, ligado à ruralidade. Queremos fortalecer a nossa tradição para mantermos a idiossincrasia da nossa cultura e afirmá-la também como potencial de desenvolvimento e crescimento da economia do concelho”, afirmou António Vilela.
A tradição tem futuro garantido

Um dos grandes anfitriões do evento é o Sr. Abílio Ferreira, um marranquenho e vilaverdense de gema, apaixonado pelas tradições locais, que doou à causa pública todo o espólio do Museu do Linho. Abílio Ferreira recorda que a primeira vez que organizou a recriação de uma espadelada do linho foi nos anos oitenta do século passado. Na altura, apercebeu-se de que a arte de produção e tratamento do linho estava a cair em desuso. Com o caminho que as cosias estavam a tomar havia o perigo iminente de este saber se perder com o tempo. Assim, resolveu dar nova vida a esta prática ancestral e os resultados estão à vista. “Na altura já só os mais velhos sabiam esta arte. Agora, com este trabalho que foi feito ao longo dos anos, as gerações mais novas também já sabem, garantindo que este saber não desaparece”, referiu, sem esconder a satisfação de ver o seu esforço dar frutos e ser o mote para uma tarde de alegria e convívio na freguesia.

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