Turistas alemães e belgas em Aboim da Nóbrega para assistir a uma malhada de centeio à moda antiga!
A recriação da tradicional malhada
do centeio é uma das atividades mais emblemáticas da programação Na Rota das
Colheitas, cuja fama já extravasou as fronteiras do país. Ontem, 06 de agosto,
a Eira de David Martinga, em Aboim da Nóbrega, recebeu dois grupos de turistas
internacionais (alemães e belgas), que se juntaram a vilaverdenses e visitantes
portugueses para embarcar numa autêntica viagem no tempo à descoberta das
raízes da tradição minhota.
O centeio espalhado
cuidadosamente pela eira de pedra. Os malhos de madeira e as vassouras de
giesta. O vinho verde entre malhadas para refrescar o corpo e fortalecer a alma.
Dois grupos de homem a brandir o malho a compasso, numa sequência de estrondos
violentos que rasgam o ar e ecoam pelas redondezas, enquanto quebram o centeio
dourado pelo sol. Uma prova de vitalidade e destreza que leva a um despique saudável
entre as duas ‘equipas’. Tudo como manda a boa tradição minhota.
Às mulheres cabe a tarefa de
organizar o centeio entre malhadas e recolher as sementes que se libertam,
porque o pulsar do mundo rural não abranda e é preciso preparar as próximas
sementeiras para voltar a colher da terra o sustento. Um misto de sons e
cheiros que nos transportam para outra era. Não poderiam faltar também as cantigas
e danças populares para animar a festa. Ainda antes de arregaçar as mangas e
começar o rabalho, houve tempo para uma atuação do Rancho Típico das
Lavradeiras de Aboim da Nóbrega. No final, termina tudo com uma merenda farta
que é generosamente partilhada com todos os presentes.
Antigamente a malhada durava o dia inteiro
Lembranças de um tempo ido em que
o centeio abundava e a agricultura era o principal meio de subsistência das
populações locais. “Antigamente, malhavam 24 homens de cada vez, 12 de cada
lado, e mesmo assim a malhada durava um dia inteiro. Também se cantava muito,
era muito bonito”, recordou Maria Costa. Por sua vez, Nélson Dias lembrou
algumas práticas peculiares. “Havia algumas eiras em pedra, mas a maioria era
em terra. Durante algum tempo antes da malhada, começava-se a recolher a bosta
do gado, que era derretida em água e depois ficava a secar. Assim que estivesse
seca também ficava dura e era pousada na eira para que o centeio não ficasse
pousado diretamente na terra”, afirmou, acrescentando que, no final, sacudia-se
a palha para retirar o colmo, utilizado no enchimento de colchões e almofadas e
para chamuscar os pelos do porco após a matança da seba.
Reavivar memórias e ensinar as novas gerações
Presente no local, a vereadora da
Cultura do Município de Vila Verde deixou rasgados elogios à organização, a
Junta da União de Freguesias de Aboim da Nóbrega e Gondomar, bem como às
associações e voluntários locais, pelo trabalho de preservação de uma prática que
esteve em vias de extinção. “O evento cumpre um duplo propósito. Por um lado,
reavivar memórias e recriar uma tradição antiga, colocar em destaque os sabores
e saberes tradicionais. Por outro, a vertente pedagógica, ensinado às gerações
mais novas os saberes tradicionais e a riqueza da cultura popular”, afirmou
júlia Fernandes, sem esconder a satisfação pela presença de dois grupos de
turistas internacionais (alemães e belgas) e da bloguer brasileira Naira Back,
que “vão ajudar a continuar a divulgar e promover esta festa”.
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