“A malhada de feijão é como como andar de bicicleta... nunca se esquece”
Ainda o
palco estava ocupado com o rancho folclórico e já o feijão estava exposto ao
sol. Depois de a freguesia de Aboim da Nóbrega mostrar como se malha o centeio,
agora foi a vez da Loureira mostrar a sua perícia na arte de malhar o feijão em
mais uma recriação de uma prática agrícola ancestral inserida Na Rota das
Colheitas. Foram dezenas de pessoas que, rapidamente, se juntaram em forma de
círculo para ver e reviver a tradição no passado dia 12 de agosto (domingo), no
final da tarde (18h30). A 3ª edição da malhada do feijão, inserida no Arraial
do Emigrante, estava prestes a começar, mas primeiro foi tempo para uma das
novidades da tarde. O grupo de folclórico luso-francês de Ponte de Lima
chegou-se à frente e, entre concertinas e cantares populares, animou de
imediato a iniciativa. Toda a gente, tanto os mais antigos como os mais novos,
aguardava avidamente o início e até vieram primeiro as famosas sopas de burro
cansado para aconchegar o estômago.
Entretanto,
o lugar da Ponte Nova recebe o Presidente do Município de Vila Verde e o Presidente
da Junta de Freguesia com malhos às costas e a Vereadora da Cultura com um
engaço nas mãos. À volta do feijão estavam também dois malhadores, já bem
conhecedores da tradição, e duas mulheres com as vassouras de giesta que não
pararam até ver os feijões em monte. Aos trabalhadores locais juntaram-se
vários elementos do público que não deixaram passar a oportunidade de reviver a
genuína tradição do Minho. Passou uma hora e o feijão estava à vista de todos.
Os mais novos não tiveram medo do pó e meteram as mãos ao trabalho. Crianças,
meninos e meninas, pegaram nas vassouras e ajudaram a aglomerar o feijão para
ser mais fácil de apanhar para a criva. Depois, entre todos, peneiraram e
colocaram o feijão limpo dentro do saco.
Quem sabe nunca esquece
Descalço,
o malheiro António Ribeiro não escondeu a felicidade que viveu ao recordar os
tempos em que a vida do campo ocupava o seu quotidiano: “eu malhava em todo o
lado... já não pegava no malho desde dos meus 19 anos, na altura que emigrei”.
Com 62 anos, um dos homens que esteve no meio do feijão do início ao fim diz
que esta atividade “nunca se esquece, é tal e qual como andar de bicicleta... se
houver vontade nunca esquece”. “Espero que nunca se perca esta tradição... ela
é tão nossa”, remata o malhador.
O jovem
Presidente da Junta de Freguesia da Loureira reconhece que a iniciativa “correu
bem... sentimos que de ano para ano tem vindo a crescer e isso deixa-nos
bastante contentes”. Pedro Dias comenta também que a participação do rancho
durante a malhada trouxe mais alegria à festa, “a introdução de um rancho
folclórico animou muito o povo, deu outro embelezamento e outra alegria”. Sendo
um dos objetivos atrair a atenção dos mais pequenos, o autarca confessa o
interesse: “Nós lançámos a semente para os mais novos... queremos que eles se
apercebam e comecem a entender como é que o feijão chega até ao prato deles!”. Para
Pedro Dias, preservar a tradição está nas nossas mãos: “tudo depende das
gentes! Todas as tradições morrem se as pessoas as deixarem de as praticar”. Valorizando
o espírito de união local, Pedro Dias termina frisando que “todos juntos
conseguimos fazer algo pela freguesia, conseguimos fazer algo pelo concelho”.
A chama da tradição está bem acesa em Vila
Verde
O
Presidente da Câmara, António Vilela, enaltece, de forma geral, todas as
práticas agrícolas que acontecem durante a Rota. “Esta malhada é um reflexo
daquilo que os vilaverdenses e os agricultores viviam e é também uma maneira de
transmitir às nossas crianças, à geração mais nova, a nossa cultura já muito
longínqua”, admite o autarca. Confiante, António Vilela diz que a tradição está
viva e vai continuar: “Julgo que a nossa tradição não vai desaparecer, vai
haver sempre um grupo de pessoas que vai manter esta tradição. Se tivermos as
organizações, as associações e as freguesias a valorizar a nossa história, acho
que a chama da tradição vai continuar bem acesa”.
A malhada
do feijão, tal como outras atividades do mundo rural, está incluída na IX
edição da Rota das Colheitas, organizada pelo Município de Vila Verde. O
programa, que decorre durante quatro meses, é visto pelo o Presidente da Câmara
como “uma âncora para o desenvolvimento e o crescimento económico! Tudo isto
hoje já desapareceu em muitas partes do país e nós queremos ser diferentes,
queremos mostrar que a tradição prevalece acima de tudo”. O Arraial do
Emigrante continua até o dia 15 de agosto, no Lugar da Ponte Nova, na Loureira.
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