A tradição da malhada do centeio regressa em força a Aboim da Nóbrega
A tradição é a
alma de um povo e Aboim da Nóbrega sabe-o bem. Pitoresca e com fortes raízes do
mundo agricultura, a freguesia prepara uma longa viagem pelo passado com a
recriação de uma malhada de centeio tradicional, que está agendada para o
próximo dia 11 de agosto (sábado), pelas 17h. A prática agrícola será totalmente
fiel aos moldes antigos, em que não faltam os trajes de época, as alfaias de
outrora, a música popular e o merendeiro no final. A recriação da tradicional malhada do centeio é
organizada pela Junta da União de Freguesias de Aboim da Nóbrega e Gondomar e insere-se
na extensa programação Na Rota das Colheitas, do Município de Vila Verde.
Antes
de iniciar a malhada propriamente dita, a eira de David Martinga apronta-se
para dar um pé de dança com o rancho da freguesia. O cenário tradicional fica, assim, bem
composto e as pessoas não escondem o entusiasmo que sentem por estarem
envolvidas em tal ambiente. O primeiro passo é espalhar o centeio seco pela
eira de pedra. Depois, entram em ação os homens valentes e destemidos, brandindo
com violência o malho de madeira que quebra o cereal dourado. Aos poucos,
instala-se uma disputa saudável entre os dois grupos, tal como acontecia no
passado.
Termina tudo em ambiente de festa
As
mulheres estão fora da competição, mas também vão à ‘luta’. São elas que
organizam o centeio entre malhadas e recolhem as sementes que se soltam. Os
sons pujantes e os cheiros próprios vindos de outra época estão bem presentes
durante toda a tarde. O trabalho é exigente, mas não falta vinho verde bem
fresco para refrescar o corpo dos trabalhadores entre malhadas. As cantigas e
as danças populares também fazem parte da iniciativa para dar ânimo à festa. Tal e qual como acontecia em tempos antigos, o final
da malhada é sinónimo de merenda farta. Há uma mesa recheada com os mais
variados petiscos, que é generosamente partilhada com os presentes. Pataniscas,
broa caseira, presunto e, claro, o vinho típico da região são algumas das
iguarias que se colocam em cima da mesa.
Malhada atrai turistas estrangeiros
A iniciativa acontece numa altura em que a população aumenta, com a chegada
dos ‘filhos da terra, emigrados em diferentes países, e tem conquistado também
o interesse de turistas estrangeiros. Se recuarmos ao ano transato, foram
vários os ‘forasteiros (principalmente de origem alemã e belga) que assistiram
à prática ancestral. João Rodrigues Fernandes, presidente da Junta de Aboim da
Nóbrega, sublinha a importância da recriação desta prática do mundo rural.
“É muito importante que a tradição não desapareça...a malhada de
centeio é uma atividade que merece todo o respeito”, refere, acrescentando que “quem
visitar Aboim nesse dia fica a conhecer verdadeiramente como as coisas eram
feitas antigamente”. Sendo já uma prática quase extinta, este dia é pensado com
dois propósitos muito vincados. “Por um lado, há uma necessidade em transportar
os mais velhos para o passado, reavivando as memórias, por outro ensinar aos
mais jovens estes saberes e incentivá-los a não abandonarem a agricultura”, diz
João Fernandes. O autarca concluiu afirmando que o centeio ainda é cultivado na
freguesia, mas em muito menor quantidade que no passado e apenas para consumo
próprio.
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