Aboim da Nóbrega. A eira de David Martinga encheu-se de centeio para uma malhada à moda antiga!
O povo aguardava, ansiosamente,
que os homens arregaçassem as mangas e metessem as mãos ao trabalho. Durante
aproximadamente uma hora, os malhos de madeira ganharam protagonismo embatendo
violentamente contra o centeio e as vassouras tradicionais, entregues às
mulheres, apanhavam as múltiplas sementes soltas. Os cheiros singulares, os
sons potentes e as vestimentas típicas da altura foram também cruciais
transportar o público para o passado. E foi o que aconteceu, já que os
espectadores não se limitaram a assistir. Muitos fizeram questão de arregaçar
as mangas e ajudaram a recriar esta prática agrícola ancestral.
O suor do trabalho duro e exigente
era combatido com vinho verde bem fresco que serviu, tal como à moda antiga,
para refrescar e dar força para continuar a ‘lutar’ pela vida do campo. Para
recuperar forças, nada melhor que uma merenda tipicamente minhota. Comida e
bebida à discrição com pataniscas, broa caseira, presunto e vinho verde, entre
outros.
“Antigamente,
era toda a semana!”
Carlos Alves, malheiro já na
casa dos sessenta, puxa a cassete para trás e conta que quando era criança já
sabia pegar no malho: “Fazia isto tinha eu uns 10, 11 anos. Eram tantas as
vezes que eu ia para o campo malhar...”. “Antigamente, era toda a semana! Começava-se
segunda e só acabávamos no sábado... e a gente aguentava, agora dá meia dúzia
de caminhos e já fica estourado”, recorda nostalgicamente o trabalhador. De
forma muito sincera, Carlos Alves concluiu que tudo o que se passa “é só mesmo
para manter a tradição, para tentar segurar, mas na verdade um dia vai acabar”.
Uma
tradição para manter
Como não poderia deixar de ser,
o Presidente da Junta também participou da iniciativa e, muito satisfeito, diz
ter sido uma tarde bem passada, cuja tradição “correu dentro da
normalidade...ao longos dos anos, nota-se uma excelente evolução desta
atividade e espero que assim continue!”. João Rodrigues Fernandes conclui sublinhando
ainda a importância de reviver a história: “Eu não quero de forma alguma que a
tradição acabe, há aqui uma forte necessidade de mostrar aos mais novos o
prestígio e o respeito que há por tudo isto”.
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