Loureira ensinou a malhar o feijão à moda antiga
A freguesia da Loureira voltou a ensinar aos mais novos e recordar aos
mais velhos como se desenrola uma tradicional malhada de feijão. Não faltaram
os malhos e os engaços de madeira, as vassouras de codesso e os crivos, a
animação da música popular e as sopas de cavalo cansado. A iniciativa
decorreu durante o final da tarde (19h) de domingo (dia 18 de agosto), inserida
na Rota das Colheitas, do Município de Vila Verde, e no Arraial do Emigrante,
da Junta de Freguesia da Loureira. Numa verdejante zona de lazer à beira-rio, o
Lugar da Ponte Nova acolheu dezenas de pessoas que se juntaram em círculo para
reviverem velhos tempos. Convidados pelo apresentador do evento, o presidente
da Junta de Freguesia da Loureira, Pedro Dias, e a vereadora da cultura do
Município de Vila Verde, Júlia Fernandes, assumiram a dianteira distribuindo as
primeiras malhadas. Foram várias as pessoas lhes seguiram o exemplo e quem ia
cedendo o lugar tinha a típica sopa de cavalo cansado à sua espera para
recuperar forças.
E foi tudo à moda antiga, garantiu Júlia Pereira, uma das pessoas
envolvidas na recriação desta prática agrícola ancestral. O feijão semeado em
maio ficava pronto a colher “por esta altura”. Já bem secos, os feijoeiros eram
dispostos no chão para a malhada. Os malhos subiam e desciam bem sincronizados,
batendo violentamente e quebrando os pés de feijão. De seguida, utilizava-se
uma vassoura de codesso ou giesta para separar o feijão das cascas maiores da
planta. “Por último, limpava-se bem o feijão nos crivos e estava pronto para cozinhar”,
referiu. E quem esteve presente no Lugar da Ponte Nova pôde reviver este
processo. No entanto, Júlia Pereira não esconde as saudades das malhadas
antigas. “Esta malhada é bastante idêntica às de antigamente, mas não é tão
grande, nem tão alegre. Naquela altura, cantava-se muito e havia mais animação.
Agora também é alegre, mas pessoalmente acho que antigamente era mais”, afirmou
com nostalgia.
Reviver memórias e rever velhos
amigos
Além de manter bem acesa a chama da tradição, a malhada do feijão também
foi ponto de encontro de velhos amigos. Palavras de João Ramos, natural da
Loureira e emigrante na França há 50 anos. “Esta iniciativa acaba por juntar a
população da freguesia e os emigrantes que regressam às origens, como é o meu caso,
estou na França há 50 anos, e isso permite-me rever velhas caras conhecidas”,
disse.
Mesmo quem não foi ao Lugar da Ponte Nova por causa da malhada acabou por
ficar a assistir. “Eu vim assistir aos ranchos folclóricos e acabei por ficar
para ver a malhada para reviver algumas memórias de infância”, sublinhou
Constantino Feio, natural da Loureira. Contudo, para Constantino, “agora isto é
diferente, é muito mais cultural e é muito mais para mostrar aos jovens”.
“Cinco dias de festa que terminam
em beleza”
A malhada arrancou com dois malhadores convidados pelo apresentador do
evento: o presidente da Junta de Freguesia da Loureira, Pedro Dias, e a
vereadora da cultura do Município de Vila Verde, Júlia Fernandes. A vontade de
participar na iniciativa era imensa e não faltavam voluntários para pegar no
malho. “Como se vê, muita gente aderiu à iniciativa e está a malhar”, referiu
Pedro Dias, acrescentando que “as pessoas mais velhas conseguem reviver as suas
memórias do tempo de infância” e os mais novos podem “perceber e sentir a
cultura e tradições que existem na freguesia e no concelho”.
Inserido na programação Na Rota
das Colheitas e também no Arraial do Emigrante, o evento teve também como objetivo
receber os emigrantes. “Todas as iniciativas do arraial têm como objetivo
receber os emigrantes da freguesia, do nosso concelho e concelhos vizinhos. Cinco
dias de festa que terminam em beleza graças à malhada do feijão”, afirmou o
presidente da Junta.
“Importante para a Loureira e para
o concelho”
A importância da Malhada do Feijão foi reforçada pelas palavras da
vereadora da cultura do Município de Vila Verde, Júlia Fernandes. “É
extremamente importante, porque estamos perante uma recriação de uma malhada à
moda antiga”, sublinhou. Para Júlia Fernandes, “a malhada do feijão permite às
pessoas não só relembrar, mas também reviver fisicamente estas práticas agrícolas
ancestrais”. Ao mesmo tempo, “permite aos mais jovens aprenderem aquilo que se
fazia antigamente” e isso é um dos fatores que conferem “tamanha importância,
quer para a freguesia da Loureira, quer para o nosso concelho”.
A vereadora da cultura não se limitou a assistir e também malhou o feijão.
“Gosto sempre de participar nas malhadas. Faz-nos regressar à infância,
quando víamos isto nas eiras dos nossos avós”, revelou Júlia Fernandes.
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