Marrancos. Um hino à cultura popular na recriação da espadelada do linho
Marrancos voltou a demonstrar que
é um bastião da cultura do linho na região. Ontem,7 de setembro, a freguesia celebrou
a herança da cultura popular com uma genuína reconstituição da tradicional
espadelada do linho. Uma iniciativa com muita animação e música popular à
mistura, que incluiu ainda as comemorações do 6º aniversário do Museu do Linho,
espaço de forte atração turística. Vindos de vários pontos do país e do mundo,
milhares de visitantes chegam anualmente a Marrancos para sentir o verdadeiro
pulsar do mundo rural e conhecer o primeiro museu nacional dedicado a retratar
o tradicional ciclo do linho.
O sol brilhava de forma intensa
num céu pintado de azul, mas o calor não demoveu a vontade dos participantes. Pouco
passava das 15h30 quando a iniciativa começou. No exterior do museu, mais de
vinte mulheres e raparigas envergavam os trajes de outrora. Blusa, saia e
avental de cinta. Lenço na cabeça e socas nos pés. Do ripeiro ao tear, passando
pelo sedeiro, espadela e fuso, entre outras, manuseavam vigorosamente as
alfaias agrícolas numa recriação fiel da prática ancestral. Como é habitual, os
visitantes não precisaram de se limitar a assistir. Puderam colocar questões,
utilizar as alfaias, experimentar os trajes… Sentir na pele o genuíno pulsar do
mundo rural.
O tecido dos Lenços de
Namorados
O processo artesanal de extração
e transformação das fibras da planta do linho culminava num tecido que tinha
diversas utilidades dos lares tradicionais do Minho rural (vestuário, toalhas
de mesa, roupa de cama…). Era também utilizado nos célebres Lenços de Namorados,
como recordou Rosa das Dores, enquanto comandava as operações no tear. Natural
de Marrancos, esteve emigrada durante vários anos, mas não perde uma espadelada
desde que regressou definitivamente a Portugal. “Participo na recriação há
vários anos. Já a minha mãe era tecedeira, estamos a fazer o linho com que se
faziam os Lenços de Namorados”, afirmou.
Em ambiente de festa, a alegria
da música popular ajudou a animar a tarde. Logo a seguir à recriação, os ‘Cantares
do Linho’ e os ‘Cantares de Ontem’ ecoaram pelo recinto. Mais tarde, o Rancho
Folclórico de Marrancos subiu ao palco e contagiou os presentes com a alegria e
vivacidade do folclore. Pelo meio, tempo para uma merenda de produtos regionais
generosamente partilhada com todos os presentes. Um momento de convívio que
permitiu recuperar energias e saborear algumas iguarias regionais.
Museu do Linho com visitantes dos
‘quatro cantos do mundo’
Durante a tarde, nota de destaque
também para as visitas guiadas ao Museu do Linho, espaço que já recebeu visitantes
dos ‘quatro cantos do mundo’, ao longo de seis anos de existência. As visitas foram
conduzidas pelo especialista Abílio Ferreira, um entusiasta da ruralidade e o grande
responsável por manter esta tradição viva. Começou a organizar a recriação da tradicional
espadelada do linho ainda durante os anos oitenta do século XX para preservar os
saberes de uma prática que começava a entrar em desuso. Entretanto, começou a
colecionar diversas alfaias agrícolas antigas, com predominância para as do
ciclo do linho. Acabou por ceder uma boa parte do espólio ao primeiro museu
nacional dedicado exclusivamente a retratar as várias etapas do tradicional
ciclo do linho.
Hoje, os resultados estão à vista,
e, dos mais novos aos mais velhos, a população de Marrancos conhece bem esta
arte secular. Para Abílio Ferreira, a recriação é sempre um momento de emoções fortes,
tanto pelo “saudosismo e reavivar de memórias” como pela satisfação de “transmitir
estes saberes às gerações mais jovens”. A afluência ao Museu do Linho também é
motivo de grande satisfação. Ao longo de todo o ano, vindos de todo o país e
também do estrangeiro, milhares de turistas chegam a Marrancos para sentirem o verdadeiro
pulsar do mundo rural. Entre trajes, artefactos, imagens, descrições e conteúdos
multimédia, os visitantes podem conhecer pormenorizadamente as várias etapas do
processo tradicional de cultivo e transformação da planta do linho.
Por seu turno, o presidente da
Junta da União de Freguesias de Marrancos e Arcozelo não destoou e vincou a
importância do Museu do Linho para a divulgação da freguesia e a preservação da
cultura popular. Manuel Rodrigues revelou que “todos os fins de semana chegam
excursões com pessoas de vários pontos do país e do mundo”, acrescentando que “é
importante manter a tradição viva e transmiti-la aos mais novos para assegurar
a continuidade”.
Preservar a tradição e atrair
novos públicos
Presente na iniciativa, o
presidente do Município de Vila Verde sublinhou que esta e outras atividades
inseridas Na Rota das Colheitas espelham o posicionamento de um concelho que
valoriza as suas origens e tradições. António Vilela adiantou que está em fase
de concurso público uma empreitada que visa a ampliação do museu e que será
também para avançar com a reabilitação da avenida de acesso ao Museu do Linho e
à igreja paroquial de Marrancos.
O edil recordou ainda que está já
em curso a transformação “da antiga adega vinícola, que vai passar a agora a
adega cultural e ter uma componente museológica”. “Tudo isto se enquadra numa
estratégia de valorização e preservação, mas também de atração de novos
públicos pela cultura. E termos uma espadelada do linho ao vivo significa precisamente
vivenciar momentos únicos da cultura popular”, concluiu.
A iniciativa foi organizada pela
Associação Recreativa e Cultural de Marrancos e pela Junta da União de
Freguesias de Marrancos e Arcozelo, inserida na programação Na Rota das
Colheitas, do Município de Vila Verde. As atividades da Rota das Colheitas
seguem já no próximo fim de semana com a Letra Harvest Fest, (13 a 15 de setembro),
em Vila Verde, e a Desfolhada Minhota (14 de setembro – 21h), em Parada de
Gatim.
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