Concertinas animam vindima e pisada de uvas, em Lanhas



Este sábado, 27 de setembro foi dia de vindimar na freguesia vilaverdense de Lanhas, mais precisamente na Quinta da Igreja. Mas o que empolgou os populares foi a pisada de uvas, de que ninguém tem memória. Nem o presidente da Câmara Municipal, nem a vereadora da Cultura resistiram ao desafio em mais uma alegre jornada de Na Rota das Colheitas.

Se as vindimas já não se fazem como em tempos antigos, em que se juntava a aldeia para vindimar nas quintas e casas uns dos outros, de uma pisada de Uvas há pouco memória. Adelino e Célia Pereira não se lembram de ver pisar uvas na Quinta da Igreja, de que são proprietários.

A ampla adega possui um lagar onde nesta tarde, em simultâneo, pisaram uvas 12 pessoas, entre elas três mulheres, uma das quais a vereadora da cultura do município de Vila Verde, Dra. Júlia Fernandes.

Juntou-se ao grupo onde já constava o presidente da autarquia, Dr. António Vilela, que recorda como as vindimas eram momentos importantes na vida comunitária. “As vindimas são um ritual da agricultura muito específico e nesta região do Minho os momentos das colheitas sempre foram festivos. As vindimas tinham esta particularidade de juntar pessoas; os vizinhos associavam-se para se ajudarem uns aos outros e muitas vezes faziam uma espécie de escala com dias marcados para que as vindimas não coincidissem umas com as outras”.

Este hábito, de uma das práticas das colheitas mais características em Vila Verde, até criou nos nossos dias uma altura para se vindimar. “Havia certas quintas que tinham já o seu dia marcado anualmente, por exemplo, o primeiro sábado de outubro ou o último de setembro, e normalmente havia a preocupação de as pessoas de não marcarem nessas datas as suas para não coincidirem e poderem ajudar”, explicou o edil.

As vindimas eram associadas a festa e alegria, apesar de a tarefa ser árdua. “As pessoas trabalhavam, mas de uma forma alegre, cantando durante o dia, conversando, convivendo, e no fim, pela noite dentro, durante as pisadas, faziam umas brincadeiras como aqui se viu hoje. Eu diria que é uma forma muito saudável de viver a vida, livre de grandes preocupações, vivendo o dia-a-dia, mas dentro de um espírito de cooperação e de amizade”, concluiu o autarca.

Célia e Adelino Pereira gostam desta festa. O casal recebeu, há três anos, a primeira das vindimas realizadas no âmbito da programação Na Rota das Colheitas. Em vez dos pés, era a raladeira. “Antes era à mão, depois ligaram-na à luz”, refere Célia mencionando a automatização de que o processo foi alvo.

Mas está longe de ser o único sinal da alteração dos tempos. Muito mudou nos hábitos da população de uma das mais pequenas freguesias de Vila Verde “nos últimos 15 anos”, segundo Adelino. “Antes, até faziam fila para nos vir aqui comprar vinho. Agora vai tudo às grandes superfícies”, desabafou.


A Quinta da Igreja chegou a produzir “11 pipas de vinho”. Este ano, com o verão atípico vivido “não deve dar mais do que duas ou quatro, no máximo”, acrescenta o agricultor. A esposa, Célia Pereira, em condições normais, estaria a cozinhar para todos os que participaram na vindima, como é tradição. Mas como esta é uma atividade programada no âmbito da Rota, a Associação de Freguesias de Vale do Homem, como entidade organizadora, reuniu voluntários, duas delas encarregues da confeção do jantar rústico, em fogo a lenha.

Numa tarde propícia à vindima, mais uma vez marcaram presença os amigos da concertina de Barcelos com quem Adelino Pereira desfruta horas de lazer e de alegria, tecendo-lhes rasgados elogios “São um pagode. Animam qualquer acontecimento em troca de pura amizade. E em termos musicais são do melhor, vozes afinadas e fortes. Hoje infelizmente não puderam vir todos por compromissos”, explicou Adelino, o homem que tem música a correr-lhe nas veias.


Igreja separa Quinta

Poder-se-ia pensar que a Quinta da Igreja assim é chamada por estar localizada nas imediações da igreja da freguesia. Neste caso, a explicação é ao contrário: a Igreja é posterior à quinta e foi construída em terrenos cedidos pelos pais do atual proprietário. Foi a nora, Célia Pereira, quem contou a história: “O meu sogro só cedeu por ser para a Igreja. Doou esta parte onde está agora a igreja e a do estacionamento”. Esta doação ‘partiu’ a propriedade em dois, separando a casa do tereno agrícola. Entre eles está a igreja, o jardim anexo com pomar e o estacionamento de meia dúzia de viaturas. Quem não conhece a história interroga-se porque estará uma casa rural anexa à igreja. Depois de se conhecer a história passa-se a ver a geografia do terreno de outra forma, parecendo que a Igreja é ‘privada’.

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