Lage volta a cumprir a tradição da Matança da Ceba


A freguesia da Lage fez cumprir, durante o passado fim de semana (14 e 15 de novembro), uma tradição antiga na nossa região, a Matança da Ceba (porco). O animal chegou ao Lugar de Goja ao final da tarde de sábado, ainda vivo. No local, recebeu uma descarga elétrica que o atordoou e adormeceu, para que pudesse morrer sem sofrimento, evitando a sangria a ‘sangue frio’, que era apanágio desta prática centenária. A veterinária municipal acompanha o desenrolar de todo o processo para garantir que são cumpridos todos os trâmites legais vigentes na atualidade.
Depois de se assegurar a morte sem dor e um rigoroso controlo das condições higieno-sanitárias, começa a prática tradicional. Já com o sol posto e com a temperatura ambiente a descer vertiginosamente à medida que a noite se vai instalando, ficam reunidas as condições ideias para recriação desta prática agrícola ancestral. A palha em chamas é utilizada para a queima do pelo e a cora da pele. De seguida, a lavagem do animal precede o desmanche, em que tanto as vísceras como a carcaça são avaliadas de forma escrupulosa pela veterinária municipal. A atividade prolongou-se até à hora de jantar, num ambiente de confraternização e degustação de fêveras e entremeada, preparadas previamente, e das tradicionais sopas de cavalo cansado (vinho, pão e açúcar).

Domingo com rejoada e magusto
No dia seguinte, à hora de almoço, foi tempo de desfrutar do banquete, com uma rejoada à boa moda do Minho. As portas da sede da Junta de Freguesia da Lage abriram de para em par para receber mais de uma centena de convivas, que se juntaram para um convívio animado, em torno de uma mesa farta. Como a época o propicia e o domingo (15 de novembro) se revelou um dia bastante soalheiro, a tarde foi marcada por um magusto típico, que fez as delícias de miúdos e graúdos. A iniciativa insere-se na programação turístico-cultural Na Rota das Colheitas, do Município de Vila Verde.

Fomentar o convívio e o espírito de comunidade
O presidente da Junta de Freguesia da Lage, Carlos Pedro Castro fez questão de sublinhar o esforço considerável perpetrado pela autarquia lagense para garantir que se cumpre a tradição sem desrespeitar as normas legais em vigor. O autarca frisou ainda que um dos grandes objetivos do evento é dinamizar a freguesia e fomentar o convívio e o espírito de comunidade, tão habitual em tempos idos e que deve ser transmitido às gerações mais novas. “Há 40 ou 50 anos, a vizinhança inteira juntava-se para esta atividade, num clima de entreajuda e cooperação. O sarrabulho e a carne eram distribuídos entre todos e passava-se quase um mês inteiro a comer porco ao domingo. O resto ia para salgar, para ser utilizado durante o inverno”, revelou.

Preservar a tradição e dinamizar a freguesia

Por sua vez, a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Vila Verde, Júlia Fernandes, vincou a importância do trabalho de preservação das tradições ancestrais do mundo rural, que vem sendo desenvolvido no âmbito da programação ‘Na Rota das Colheitas’. Júlia Fernandes aproveitou ainda para enaltecer o meritório trabalho desenvolvido pelas populações locais, e a Lage não é exceção, na defesa do património cultural vilaverdense e na criação de atividades que criam dinâmicas muito interessantes nas freguesias, que se valorizam (e em simultâneo valorizam o concelho), fortalecem laços entre os habitantes locais e atraem visitantes.

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